terça-feira, 29 de junho de 2010

TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA - 1974



Agora sim! De Bandido para Bandido; Vamos falar de cinema assim porque hoje o cabra que chega aqui é bruto. Mas também vamo falar de amor, vá...
Em 1987 eu era um suicida moleque de 17 anos e namorava a Camila. Naquela época minha vida era, basicamente, discos do Lou Reed e um punhado de filmes. (Bem, nem mudou tanto como podem ver...) Mas entre o punhado de filmes, eu tinha acabado de descobrir um tal de Sam Peckinpah com “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” e fiquei malucão. Aí vem o amor; Camila me presenteou com um livro-depoimento, a primeira coisa próxima uma biografia, chamada THE WILD HEAD ONLY, escrita por Begona Palacios. Ela falava sobre seu falecido marido... SAM PECKINPAH.
O livro está aqui até hoje e faz parte de minha cabeceira de bibliografias básicas. Através dele fiquei sabendo da fase complicada do Mestre, quando da gravação de TRAGAM-ME A CABEÇA... Era o ano de 1973.
Peckinpah aquela altura já era renomado cineasta para o bem e, graças ao diabo, para o mal. Havia feito obras primas, como A MORTE NÃO MANDA RECADO e MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA. Pelo segundo, concorreu a um oscar em 1969. Pelo primeiro, deu as caras no cinema americano pra fazer história.
Descendente de índios Paiutes, nascido em Fresno no ano das balas na agulha de 1925, para Sam, o velho oeste era algo, familiar... Dessa forma estreiou no cinema em 1954 escrevendo diálogos para a película REBELIÃO NO PRESÍDIO de seu grande amigo Don Siegel. Aliás Don é importante para esse filme em questão...
Como disse, a fase era complicada. Com o passar dos anos, Sam angariou para sí uma notória fama de bebum, cheirador, cabra safado, puto véio genial em hollywood. Mas os problemas dessa nobre existência... diferenciada por assim dizer, do mestre causava problemas. Seu set de filmagens era uns inferno! Em SOB O DOMÍNIO DO MEDO, irritado com as falhas de sua épica cena de estupro com Susan George, (a loira divina que ele tanto trepava no seu triller, atrasando todaaaa as filmagens,) ele não se fez de rogado; Encheu a cara da muié de pancada e mandou o Peter Vaughn terminar o serviço;
Extermina o que sobrou, agora... Gravando!”
Com Steve McQueen que tinha fama de durão, Sam falou o seguinte; “Mermão eu tenho 6 balas na minha Magnum 44. É o tanto de chance que te dou pra errar...” E ao invés de “corta” a cada erro do elemento star, Sam dava um tiro pro alto. No quarto tiro mandou;
Seu tiver que gastar mais uma bala, meto ela no meio da sua testa”... E assim seguia.
Óbvioooo que dessa forma, ninguém mais queria dar um trocado de financiamento para seus filmes e principalmente para seu novo projeto. Mas o cara não pipocou; Pediu ajuda para Don Siegel que investiu 500 mil dólares no amigo e descolou mais 200 conto com os comparsas... Então a verba era essa; 700 mil pratas pra rodar um filme. Que ótimo... Assim, o mestre provou que era O CARA MESMO!!!
Visto que a verba era curta, contou com a ajuda do parceirão de pingaiada e farinha, Warren Oates para ser protagonista. Velho vilão de filmes de western spaghetti, Oates era o único cabra experiente do set. Sem grana o mestre decidiu por filmar tudo na fronteira selvagem, do Mexico/Eua. Como não tinha grana pra pagar profissas do ofício, cercou-se de gente inexperiente, exemplo; Alex Phillips Jr, um fotografo da revista pornô Hustler, ficou incumbido da fotografia do filme.
Como a grana era pouca, Sam não podia mata-lo... Então deu um jeito de trabalhar com o sujeito, no que pese toda sua inexperiência com cinema. Em uma das cenas chave do filme, numa madrugada no cemitério de uma cidadezinha no cu do Mexico, a luz variava mais que neon de puteiro! Ma vai assim mesmo! Num esforço supremooo de Sam Peckinpah com atores locais, moradores dos vilarejos, participações de amigos como Kris Kristofferson, nasce uma de suas obras primas.
Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” tem uma história D-I-N-A-M-I-T-A-N-T-E!!!
Um milonário mexicano descobre que um cabra safado, um sem-mãe desgraçado fez a xana de sua filha virgem e embuchou a prenda. Entonces Dom Emilio Fernandez decreta: “Yo doi um millón de dolares por quiem trajer la cabeza de Alfredo Garcia”... ahhhhhhh PORTUNHOL SELVAGEM, como diria nosso amigo XICO SÁ!! Classico! Assim começa a trama. Cria-se uma industria de Caça recompensas e uma dupla destes chega até o pianista Benny. Outro puto véio, que da um trampo numa bimboca em Tijhuana como musico e dono de quenga. Uma delas deu a a letra; Elita, puta interpretada pela cantora Isabela Verga, havia acabado de ter um affair com Garcia e avisa que o elemento está morto. Mas Benny tava duro e precisava de grana. Entonces decide:
Bora pro cemitério buscar a cabeça do fi-de-puta que ta valendo um trocado bão, nêga...”
Começa então uma viagem alucinante por bimbocas, puteiros, hoteizinhos pardieiros cheios de pulga nas beiras das estradas mexicanas, bebuns, tequilas e guarânias. É o cenário seminal de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA e suas cenas antológicaaaasss, tais como, após uma noite de “amorrr”,com Elita; Benny acorda com um ataque de chato, ardendo em seu saco. Sem titubear, nosso herói macho, saca de sua garrafa de tequila e lava as bolas com umas tres doses. Coisa DE MACHO, PORRA!
Sendo assim, claro que os formadores de opinião torceram o nariz. Não só pela película mostrar coisas de macho mas, principalmente por escancarar (Com toda poesia selvagem que lhe era peculiar) um EUA que os americanos num queriam muito saber. O Oeste fronteriço com o México. Aí vinha o protagonista Benny:
Benny é amoral e desesperado. Mas num é um agorento ambicioso apenas. O que lhe rói a alma é o tédio e para acabar com ele, decide encarar o desafio de achar a cachola do garanhão comedor. Foi a viúva de Peck, Begona Palacios, que deu a capivara:
Benny os incomodou tanto porque é totalmente inspirado no próprio Peckinpah. Tem tudo dele no personagem; A paixão, a teimosia, a coragem, as ilusões e desilusões, principalmente as que ele vivia na época. Ele queria ser lembrado como Benny. Até os inseparáveis óculos escuros, ele cedeu para o personagem, que os usa até para dormir.”
O cinema de Peckinpah é isso mesmo; Um furúnculo encravado no meio do tóba dos politicamente corretos, dos “estetas do bom gosto”. Peckinpahn, conhecido por ser o grande “Esteta Da Violência”, sempre dizia que “Meu cinema é como um grande ballet de corpos, tiros, cartuchos de balas, banhados quase sempre por um grande sol vermelho, sempre que possivel, ilustrado por Monument Valley”... Uma clara alusão a seu grande ídolo e amigo John Ford.
Uma vez foi perguntado durante a antológica entrevista em Cannes, 1970:
Então o senhor quer dizer que está para o cinema como o Nureiev está para dança?”
Não. Nureiev te propicia sonhos; Meu cinema, serve pra ser o pior pesadelo de sua vida, baby...”
E a francesinha quis perguntá mai nada não...
E assim, de pardieiro em pardieiro, acompanhado de sua quenga e muito mais de sua garrafa de Tequila, “Benny/Peckinpah” conta a história desse, que hoje sem a menor dúvida é um dos maiores road movie's já produzidos. Depois dele, o mestre persistiu e em 1976 fez mais uma obra prima, o lindo CRUZ DE FERRO, depois veio COMBOYO e CASAL OSTERMAN mas nada... O epitáfio já tava pronto. TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA é definitivo. Um “classico filme de Sam Peckinpahn”.
No dia 28 de dezembro de 1983, o nosso mestre foi para o Inferno após um infarte sofrido em sua casa no México. Essa data, no meu Parque Novo Oratório, sempre é lembrada com uma grande celebração. Eu, Carlão, Zé Nogueira, Bolão, Paulinho Cara Preta, Erika, Camila e Bodé, nos reunimos no bar do Ivo para encher a cara até tombar... Até sair catando cavaco! Até ficar bebado de chamar cachorro de caixa... Em homenagem a esse, que sem a menor dúvida é um dos grandes nomes do cinema mundial.
E já falei pra caraio. Agora assistam ae, seus putos!
Corri...




terça-feira, 22 de junho de 2010

GAROTA ESLOVENA - 2009


Em 1996 eu namorava uma mocinha que tinha la uns amigos bacanas. Através deles, me descolou um trampo como monitor, babá de gringo, sei lá como deve chamar aquilo... Durante a Mostra Internacional de São Paulo. Naquele ano, Emir Kusturica veio para cá mas não para ser jurado nem presidente de nada, juri essa papagaiada... Ele queria muito falar da nova geopolítica mundial a partir das novas repúblicas e andava muito preocupado com o que aconteceria com sua Yugoslavia.


Lembro de ter esbarrado com ele, duas ou tres vezes. Em uma delas segurei minha condição de fã alucinado do cabra e no elevador, perguntei para ele sobre os conflitos etnos/politicos que estavam rolando por lá. Em um inglês impecável ele me disse:


O final do meu filme UNDERGROUND mostra tudo que eu penso; Eu tinha um País, uma Nação, uma História; Aí repartiram isso em nada e agora o que temos?”

Como eu não sabia muito do dia a dia dos balcãs e o cara num tava com uma cara muito boua, calei minha boca. Mas o sujeito que estava com ele, começou então uma discussão em eslavo, que pelo menos julguei ser uma discussão devido ao volume da prosa... E assim foram pelo corredo do Hotel afora. No outro dia estava eu ensinando os gringos a pedir “Um contra filet com batata frita e uma cerveja”... Come on. Speak to me; Um bife com batatas...” E ae o cara que falava em Eslavo com o Kusturica veio em minha direção, falando um inglês deplorávellllll e me pediu:

Você poder me levar in boca do trasha?”

Pronto; Mais um gringo atras de crack...” Pensei. Mas era meu trabalho, acho... Avisei o amigo que trampava comigo e la fui eu pegar a Van pra descer da Avenida Paulista rumo a cracolandia com o sujeito. Na Van ele se apresentou.

Disse que seu nome (ou pelo menos algo próximo a isso, la para eles...) Era Damjan Kozole. Que eu deveria pronunciar “Deiam” para ficar certo. Eu respondi que o meu era Marcelo e que não carecia ele pronunciar mais nada... (Eu tava numa ressaca desgraçada). Ele riu, me esticou a mão e disse que era cineasta. Que já havia feito até aquela altura, tres filmes, que era fã de “Joe Coffe and Candeias” e que ficaria muito feliz de conhecer onde era a tal Boca Do lixo, ou como ele me dizia “Boca do Trasha” que ele tanto havia estudado. Fiquei besta:

Na Yugoslavia nêgo conhecia o Zé Do Caixão e o Ozualdo Candeias (Ozualdo, o Damjan não conseguia falar nem a pau!). “Joe Coffe”.... Me sensibilizei com a causa. Eu sabia onde o Zé morava, e parei a vã na frente do prédio dele. Demos sorte, ele vinha da rua. Com um mau humor desgraçado, atendeu o dislumbrado gringo e mesmo comigo contando toda a história da yugoslavia, o Mojica não se snsibilizou e tocou a gente dalí em pouco menos de 10 minutos. O Gringo, cheio de fotos, gravações com uma handcam véia, me agradecia com os olhos cheios de água; “Danka Marxeran, Danka”.

Fiquei feliz também. Então passamos a nos encontrar depois das sessões para encher a cara e falar de cinema. Damjan contou-me que tinha uma posição contrária a de Emir, que não se considerava mais um “yugan” mas sim, Esloveno. Foi a primeira vez que ouvi falar que existia esse lugar. Contou-me que fazia parte de um movimento protagonizado por uma galera que queria revitalizar a tradição de mais de 100 anos de cinema na tal da Eslovenia. Lembro de alguns nomes... Karol Grossmann, Janko Ravnik, Ferdo Delak, France Štiglic, Mirko Grobler, Igor Pretnar, France Kosmač (aliás é um milagre a lembrança mas vou escrever tal e qual ele me ensinou, com o Til, em cima). Bom... A mostra de cinema de 1997 acabou. Troquei uns emails com o cara. E não é que ele era bom mesmo???

Damjan era conceituado em seu país e em pouco tempo, a Europa tomou conhecimento de seu trabalho. Em 2003 foi indicado para o Festival de Berlin e pouco tempo depois, Cannes e Veneza. A partir de 2004 nunca mais trocamos e-mails, desde 1997 não o ví mais pessoalmente e creio que nunca mais verei. Mas isso não importa. O que vale é que seu trabalho prosperou e em 2008/2009, chega ao auge com SLOVENKA. Filme que aqui virou GAROTA ESLOVENA.

A película conta a história de Alexandra, (Que Damjan me ensinou; Sendo Alexandra ou Alexandriev, nos Balcãs ganha o apelido de Sasha) 23 anos, estudante de inglês em Liubliana, Eslovênia. A moçoila então descobre um jeito mais rápido de ganhar grana e ao invés de estudar inglês como fazia, decide cair na quengagem. Para isso usa o codinome “A Garota Eslovena” e a puitaria passa a ser sua fonte secreta de renda. “Slovenka” logo se torna bastante famosa nos tablóides, o que torna ainda mais difícil para Alexandra continuar mentindo para os amigos e especialmente para o pai afetuoso e sincero.

Um fenômeno muito comum esse.

Com a queda dos regimes comunistas no leste europeu nos anos 90, rola uma enxorada de vagabundo atrás de mão de obra barata nesses países em transição política de seus regimes de ferro para, um caitalismo desenfreado. A industria do cinema pornô americano, praticamente migra toda para aqueles lados. Só pra variar, John Stagliano foi o pioniero nisso também. Mas outra hora falamos dele.

SLOVENKA faz uma crítica a esse processo de transição e questiona as possibilidades de planos de carreira para jovens estudantes europeus, dentro da Eslovenia. Hoje, 27% dos Eslovenos se espalham pela Europa e 8, entre 10 jovens de lá, se preparam justamente para esse destino; Estudar e cair fora. Em 2009, de cada 10 garotas eslovenas, 4 caíam para a putaria.

Vale a pena dar um confere no filme. E Damjan, os bandidos daqui esperam que agora que ocê ta rico, que a sua pessoa não reapareça pra encher o saco nosso porque teu filme vai ser disponibilizado na íntegra aqui, pra todo mundo ver. Então segue a película ae embaixo putada.



Corri...



quarta-feira, 9 de junho de 2010

MANIFESTO MARGINAL; o berro e a fúria dos corações bastardos

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