Lembro de ter esbarrado com ele, duas ou tres vezes. Em uma delas segurei minha condição de fã alucinado do cabra e no elevador, perguntei para ele sobre os conflitos etnos/politicos que estavam rolando por lá. Em um inglês impecável ele me disse:
“O final do meu filme UNDERGROUND mostra tudo que eu penso; Eu tinha um País, uma Nação, uma História; Aí repartiram isso em nada e agora o que temos?”
Como eu não sabia muito do dia a dia dos balcãs e o cara num tava com uma cara muito boua, calei minha boca. Mas o sujeito que estava com ele, começou então uma discussão em eslavo, que pelo menos julguei ser uma discussão devido ao volume da prosa... E assim foram pelo corredo do Hotel afora. No outro dia estava eu ensinando os gringos a pedir “Um contra filet com batata frita e uma cerveja”... Come on. Speak to me; Um bife com batatas...” E ae o cara que falava em Eslavo com o Kusturica veio em minha direção, falando um inglês deplorávellllll e me pediu:
“Você poder me levar in boca do trasha?”
“Pronto; Mais um gringo atras de crack...” Pensei. Mas era meu trabalho, acho... Avisei o amigo que trampava comigo e la fui eu pegar a Van pra descer da Avenida Paulista rumo a cracolandia com o sujeito. Na Van ele se apresentou.
Disse que seu nome (ou pelo menos algo próximo a isso, la para eles...) Era Damjan Kozole. Que eu deveria pronunciar “Deiam” para ficar certo. Eu respondi que o meu era Marcelo e que não carecia ele pronunciar mais nada... (Eu tava numa ressaca desgraçada). Ele riu, me esticou a mão e disse que era cineasta. Que já havia feito até aquela altura, tres filmes, que era fã de “Joe Coffe and Candeias” e que ficaria muito feliz de conhecer onde era a tal Boca Do lixo, ou como ele me dizia “Boca do Trasha” que ele tanto havia estudado. Fiquei besta:
Na Yugoslavia nêgo conhecia o Zé Do Caixão e o Ozualdo Candeias (Ozualdo, o Damjan não conseguia falar nem a pau!). “Joe Coffe”.... Me sensibilizei com a causa. Eu sabia onde o Zé morava, e parei a vã na frente do prédio dele. Demos sorte, ele vinha da rua. Com um mau humor desgraçado, atendeu o dislumbrado gringo e mesmo comigo contando toda a história da yugoslavia, o Mojica não se snsibilizou e tocou a gente dalí em pouco menos de 10 minutos. O Gringo, cheio de fotos, gravações com uma handcam véia, me agradecia com os olhos cheios de água; “Danka Marxeran, Danka”.
Fiquei feliz também. Então passamos a nos encontrar depois das sessões para encher a cara e falar de cinema. Damjan contou-me que tinha uma posição contrária a de Emir, que não se considerava mais um “yugan” mas sim, Esloveno. Foi a primeira vez que ouvi falar que existia esse lugar. Contou-me que fazia parte de um movimento protagonizado por uma galera que queria revitalizar a tradição de mais de 100 anos de cinema na tal da Eslovenia. Lembro de alguns nomes... Karol Grossmann, Janko Ravnik, Ferdo Delak, France Štiglic, Mirko Grobler, Igor Pretnar, France Kosmač (aliás é um milagre a lembrança mas vou escrever tal e qual ele me ensinou, com o Til, em cima). Bom... A mostra de cinema de 1997 acabou. Troquei uns emails com o cara. E não é que ele era bom mesmo???
Damjan era conceituado em seu país e em pouco tempo, a Europa tomou conhecimento de seu trabalho. Em 2003 foi indicado para o Festival de Berlin e pouco tempo depois, Cannes e Veneza. A partir de 2004 nunca mais trocamos e-mails, desde 1997 não o ví mais pessoalmente e creio que nunca mais verei. Mas isso não importa. O que vale é que seu trabalho prosperou e em 2008/2009, chega ao auge com SLOVENKA. Filme que aqui virou GAROTA ESLOVENA.
A película conta a história de Alexandra, (Que Damjan me ensinou; Sendo Alexandra ou Alexandriev, nos Balcãs ganha o apelido de Sasha) 23 anos, estudante de inglês em Liubliana, Eslovênia. A moçoila então descobre um jeito mais rápido de ganhar grana e ao invés de estudar inglês como fazia, decide cair na quengagem. Para isso usa o codinome “A Garota Eslovena” e a puitaria passa a ser sua fonte secreta de renda. “Slovenka” logo se torna bastante famosa nos tablóides, o que torna ainda mais difícil para Alexandra continuar mentindo para os amigos e especialmente para o pai afetuoso e sincero.
Um fenômeno muito comum esse.
Com a queda dos regimes comunistas no leste europeu nos anos 90, rola uma enxorada de vagabundo atrás de mão de obra barata nesses países em transição política de seus regimes de ferro para, um caitalismo desenfreado. A industria do cinema pornô americano, praticamente migra toda para aqueles lados. Só pra variar, John Stagliano foi o pioniero nisso também. Mas outra hora falamos dele.
SLOVENKA faz uma crítica a esse processo de transição e questiona as possibilidades de planos de carreira para jovens estudantes europeus, dentro da Eslovenia. Hoje, 27% dos Eslovenos se espalham pela Europa e 8, entre 10 jovens de lá, se preparam justamente para esse destino; Estudar e cair fora. Em 2009, de cada 10 garotas eslovenas, 4 caíam para a putaria.
Vale a pena dar um confere no filme. E Damjan, os bandidos daqui esperam que agora que ocê ta rico, que a sua pessoa não reapareça pra encher o saco nosso porque teu filme vai ser disponibilizado na íntegra aqui, pra todo mundo ver. Então segue a película ae embaixo putada.
Corri...
3 comentários:
Cara... muito du caralho essa inciativa de vcs! Esse filme jamais chegaria até aqui, no paraná! Mas como será? Semanalamente um filme novo?
Filme legal. É fechadinho, redondinho.. a linguagem é competente, se encaixa com a proposta. O ritmo também é agradável, não cansa, sabe equilibrar as tensões.. Enfim, não é mada que eu vá chamar de genial ou que vá lembrar daqui ha muitos anos com destaque, mas foi um tempo muito bem aproveitado!
Abs!
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